Uma das vertentes do ofício de tradução que eu realmente admiro é a interpretação simultânea, aquela que o intérprete vai ouvindo e traduzindo ao mesmo tempo. Tipo aquele pessoal do Oscar, mas sem fazer a gracinha do: "....e agora, o apresentador contou uma piada sobre o governo americano e toda a plateia riu." Ah, conta para mim também, pôxa...
Acho o trabalho de interpretação fascinante. Salvo conversas informais com amigos estrangeiros, nunca me aventurei nessa área. E depois de uma das últimas convenções da ONU, até fiquei com medo dos efeitos colaterais de um palestrante bizarro, ditador e com verborragia.
Obviamente, as Nações Unidas contam com uma grande equipe de tradutores e intépretes, e sem eles nenhuma negociação diplomática avançaria um milímetro sequer. Mas imaginem como deve ficar a cabecinha dos profissionais depois de uma assembleia geral - e digo não só pelo denso conteúdo das discussões, mas da miscelânea sociocultural, geopolítica, linguistico-comportamental etc e tal entre os digníssimos chefes de nações.
Imaginem o intérpete do Lula. Imaginem o jogo de cintura idiomático que o indivíduo deve ter quando nosso presidente diz que "Qualquer analfabeto pode plantar um pé de petróleo".
Sugestões em vários idiomas, por favor, postar nos comentários.
Em uma assembleia de setembro, o dirigente líbio Muammar Kadhafi estrapolou os 15 minutos de discurso que lhe cabiam, e depois dos primeiros (!) 75 minutos repletos de incoerências e gritarias verbais de Kadhafi, aos trancos e barrancos, o intérprete simplesmente pirou. Segundo o The New York Post, ele teria exclamado "Não aguento mais!" e saiu correndo de seu posto.
Rasha Ajalyaqeen, responsável pela seção árabe dos intérpretes das Nações Unidas, socorreu o colega e assumiu os últimos 20 minutos de interpretação. Ele disse que, em 25 anos de ofício, nunca viu coisa parecida.
Li certa vez um intérprete sueco na União Europeia contando que a tarefa de traduzir em simultâneo nas sessões parlamentares da UE é um trabalho tão difícil, que na realidade exigiria 20 anos de experiência profissional. Acrescentou ainda que ser tradutor é tão cansativo, que ninguém aguenta trabalhar mais do que meia hora de cada vez, por isso há sempre três intérpretes que se revezam.
Em outra ocasião, o governo sudanês intimidou fisicamente o intérprete de Kofi Annan quando o secretário-geral da ONU visitou a região de Darfur.
Ufa!
Mas tem suas compensações.
Por exemplo, ter como representante da categoria a Nicole Kidman contracenando com o Sean Penn em um filme do Sidney Pollack sobre uma intérprete que salva um líder político da morte. Precisa mais?
Quando assisti "A Intérprete", de 2005, morri de inveja da superpoderosa, bem-sucedida, linda, magra, alta e loira intérprete da ONU. Como ela arranja tempo para ser sarada assim e ainda se envolver em uma conspiração internacional? Só no cinema.
Enfim, confiram. Vale a pena. O filme é bom, e o Sean Penn é tão feio que chega a ser sexy. Eu e a Madonna gostamos.
Deixo uma ótima reportagem da Revista Língua sobre a interpretação simultânea ou consecutiva e as saias justas que esses nobres profissionais enfrentam. Enjoy it!
O bom do interprete do Lula é que ele pode corrigir a gramática,haha.
Eu ia comentar agora do filme, mas você falou dele, óbvio,haha. Para hollywood até que o filme foi muito bom, e eu também gosto do Sean Penn!!!!
Não acredito que eu conseguiria aguentar a barra de ser interprete, não sei até que ponto consigo deixar de lado minhas própria crenças, e passar sem conflitos algo que eu considere absurdo. Pode até ser que consiguisse, mas ia surtar.
Acho que você é mais poderosa que a Kidman, tendo em conta tudo que faz no país que estamos,com a diferença de oportunidades.
adoro quando posta!
beijos juju
ahhhh...também adoro o Sean Penn !!
(ô lá em casa!)rs
Eu adoraria ser intérprete, acho bacanérrimo!
Beijo da Van!
Você deveria investir nesses textos, cabeção. Mandar pra revistas, jornais.
concordo com o fabricio!
¬¬
Ahh imagina interpretar ligua de surdo-mudo? Tenso hein...